A falta de sono provoca diminuição do desempenho, exige mais tempo para a execução de tarefas e pode levar a decisões erradas. Tudo isso resulta em grandes custos econômicos, na produção e na saúde. Além disso, doenças associadas à falta de sono provocam aumento da mortalidade: alzheimer, depressão, infarto e AVC são algumas delas.

Na direção de um veículo, o sono pode provocar sérios acidentes. Provoca.

Tanto que as montadoras desenvolvem sistemas de alerta para motoristas sonolentos, com equipamentos que detectam o piscar dos olhos mais lentos, os movimentos da cabeça e do corpo, que indicam falta de sono e disparam alertas sonoros, luminosos e vibratórios.

Na nossa viagem “Honda – Pra lá do Fim do Mundo”, de São Paulo a Puerto Toro, no Chile, por muitas vezes o repouso é rápido e não se respeita as ideais oito horas de descanso por dia. Por isso, os nove integrantes estão no revezamento da direção dos quatro carros, dois HR-V e dois WR-V.

Mas, de qualquer forma, ao contrário do que reza a tradição iniciada com a Revolução Industrial, não é necessário um sono contínuo para restabelecer a disposição de enfrentar o resto do dia acordado e disposto. Na era agrícola, o homem estava disponível de sol a sol; com a industrialização, estabeleceu-se as oito horas de sono, que, de alguma forma, permanece até hoje, embora a era da informática tenha disponibilizado o homem para o trabalho, não de sol a sol, mas 24 horas por dia.

A despeito do que isso significa em relação à exploração da força de trabalho dos servidores, ou, como as companhias “modernas” costumam chamar, dos “colaboradores”, o fato é que o homem não precisa necessariamente de oito horas de sono para manter sua disposição.

“Dormir oito horas por dia seguidas é uma convicção errada. Somos seres feitos pra viver e sobreviver na natureza e a natureza é improvável, por isso, temos sempre que estar acordados”, diz a neurologista Tereza Paiva, especialista do Centro do Sono iSleep. Ela explicou que o corpo humano é adaptável. Cada um dorme aquilo que precisa. Derrubou também o mito de que é preciso dormir tudo seguido.

“O homem paleolítico tinha que estar sempre alerta. Acordava várias vezes, caso contrário, poderia ser atacado e morto”. Da mesma forma os animais, que estão sempre alertas. Os animais têm sono polifásico, isto é, dormem em várias etapas e por pouco tempo em cada uma. “Se não acordássemos durante o sono, seríamos comidos por um leão! Diz a neurologista.

O navegador Amyr Klink, que acompanha a viagem Pra Lá do Fim do Mundo, sabe muito bem disso. Em sua aventura em volta da Terra num veleiro, ficou exposto a vários leões por dia: o barco não poderia ser deixado sem o seu controle por muito tempo, com o risco de se destruir nos blocos de gelo que perambulam na rota.

Amyr passou quatro meses dormindo no máximo 50 minutos, quatro ou cinco vezes por dia. “O corpo está feito pra isso, pra acordar e ficar ativo”, diz Tereza Paiva.

“Não sabia que esse meu sono de 50 minutos por vez era chamado de sono polifásico”, se surpreendeu o navegador, que treinou o sistema de sono por imperiosa necessidade.

O sono polifásico é usado exatamente por pessoas engajadas em atividades que não permitem longos períodos de sono, caso de velejadores e astronautas.

Segundo especialistas, a memória e a capacidade analítica apresentam melhoras quando comparadas ao sono monofásico (aquele das tradicionais oito horas por noite) ou bifásico (o do longo período à noite + a sesta da tarde).

O sono polifásico é aquele que mais se aproxima dos hábitos de nossos ancestrais. Temos nos olhos células sensíveis ao espectro da luz azul. A luz do amanhecer. A luz do princípio da manhã é carregada do espectro azul e a do fim do dia, é do espectro vermelho. A luz vermelha da tarde, nos dá calma e a luz azul da manhã, nos estimula e nos põe acordados.

Em “Why We Nap: Evolution, Chronobiology e Functions of Polyphasic and Ultrashort Sleep” o pesquisador Claudio Stampi, do Chronobiology Research Institute, trata do uso do sono polifásico em situações extremas, onde o sono consolidado não é possível. Mas lembra que as medições de retenção de memória e a capacidade de análise aumentam em comparação com o sono monofásico e bifásico, e confirma que o sono polifásico era o preferido dos antepassados da raça humana há milhares de anos.

Não, a equipe da vaigem “Honda – Pra lá do Fim do Mundo” não vai precisar alterar a condição de sono monofásico. No máximo vamos encurtar o período em algumas etapas e em outras passar parte da noite dirigindo. Desta vez Amyr Klink optou por uma aventura com uma pegada bem menos radical. Ainda bem!